quinta-feira, 17 de maio de 2012

O quarto

Não entres...
Mas se o fizeres...fá-lo devagarinho.
Sem que eu perceba. Para que não saiba da tua presença, mas me sinta segura sem perceber bem porquê...
O ar muda quando estás por perto. O céu deixa de ser azul.
Laranja... Fica laranja... como um pôr do sol intenso. E cheira a sal.
Cheira sempre muito a sal.
E não me toques. Respira só.
E não fales. Deixa o coração bater devagarinho.
Deixa a madeira ceder debaixo dos teus pés a cada passo num barulho suave, quase imperceptível.
E deita-te...
Não me toques. Não me fales.
Deita-te.
Cheira a sal. Cheira sempre muito a sal quando estás por perto.
Como se estivesse dentro de uma onda. Só que sem medo que ela quebre.
Uma onda que é sempre uma onda.
Suspira quando encostares a cabeça à almofada.
Mas não puxes os cobertores.
Detesto que puxes os cobertores.
Não me toques.
Detesto que me toques.
Não me fales.
Destesto quando me falas.
Respira só. Deixa o coração bater devagarinho. Suspira.
Cheira a sal. Cheira sempre muito a sal quando estás por perto.

...Tenho saudades do cheiro a sal
... nunca mais cheirou a sal...

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