sábado, 27 de agosto de 2011

Cento e Quarenta e Seis

Eça de Queirós dizia: "A distância actua sobre a emoção exactamente como actua sobre o som (...) É sempre em ambas o idêntico e tão racional princípio das ondulações, que vão decrescendo à medida que se afastam do seu centro, até que docemente se imobilizam e morrem: se elas traziam um som que vinha vibrando - o som cala quando elas param"

E se não for bem assim?
E se existir uma emoção que torna um pequeno som de uma nota numa sinfonia que invade todos os nossos sentidos?
E se a distância não diminuir a intensidade do som mas for, isso sim, capaz de a aumentar a níveis inatingíveis?
E se a distância for apenas um número?



E se...

Fazes-me falta.

Andaria. Cento e Quarenta e Seis.


Para ti.

Lisboa

Habituei-me a achar que o ruído dos carros a alta velocidade era música...
Habituei-me a achar curta a viagem de 45 minutos para o centro...
Habituei-me a abraça-los como se os fosse ver todos os dias...
Habituei-me a dormir no quarto de 20.000 pessoas diferentes...
Habituei-me a não achar estranho dizer "caminhe até ao marquês de pombal"...
Habituei-me a perder o metro...
A beber café no starkbucks...
A passear no bairro alto...
A dar direcções aos turistas...
A dançar no meio da rua...
A cantar no meio do Mac...
A tirar 1001 fotografias de tudo e de coisa nenhuma...
A ter saudades antes de partir...
A ter de andar 2 km para poder chegar à pousada...
A não ter medo...
Mas pior...
Habituei-me a ti.

Lisboa...Lisboa é amor aos pedacinhos...

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Reencontros

O céu negro pairava assustadoramente sobre a minha cabeça ameaçando um temporal como há muito não se via...
O vento gelava-me os dedos que lentamente perdiam a capacidade de se mexer com a delicadeza e sensibilidade que lhes eram características. Os meus cabelos serpenteavam suspensos e chicoteavam os meus ombros protegidos pelo fiel casaco de malha preto.
Ninguém diria que era verão olhando para aquele céu.
Mas não importava...na realidade nada importava porque aguardava por este momento há muito tempo.
Os reencontros começam sempre assim.
Alguém espera alguém. Depois correm uma para a outra sem se importarem com mais nada.
E durante horas as palavras saem dos nossos lábios como rios impossibilitados de correr há muito tempo, e quando damos conta... silêncio.
Deixamo-nos cair no banco de jardim (no mesmo de sempre) e respiramos.
"Como é que conseguimos dar uma reviravolta à nossa vida em apenas 336 horas?"
E a resposta não vem como por magia, como acontece nos filmes, nem há um gigantesco sinal luminoso a dar-nos indicações sobre o que devemos fazer...
Por isso deixamo-nos ficar ali...com o tempo a passar...
Porque às vezes a vida resume-se a isto:
Eu, tu e um banco de jardim...