sábado, 29 de setembro de 2012

Erros

Há algo de muito errado em não sabermos o que queremos...
ainda mais errado em sabermos e não admitirmos...
ainda mais errado em sabermos, não admitirmos e querermos fazer tudo para mentir a nós próprios e negar que o que queremos é de facto o que queremos.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Típico

Quando olhas só para ti, não consegues ver os outros.
Óbvio.
Mas depois admiras-te quando toda a gente deixa de te ver a ti...
Estás lá, mas acaba por ser indiferente para nós...
E a tua invisibilidade não vem do facto de termos começado a olhar para os nossos umbigos...
Não... nós continuamos a olhar uns para os outros... nos olhos... como sempre fizemos...
Simplesmente fazemos de ti uma mancha no espaço...
Ignoramos.
Porque estamos cansados de ser ignorados.
Porque tu só vens quando precisas.
Só dás quando queres algo em troca, e isso não é dar.
És tão...
Típico.

quinta-feira, 17 de maio de 2012

O quarto

Não entres...
Mas se o fizeres...fá-lo devagarinho.
Sem que eu perceba. Para que não saiba da tua presença, mas me sinta segura sem perceber bem porquê...
O ar muda quando estás por perto. O céu deixa de ser azul.
Laranja... Fica laranja... como um pôr do sol intenso. E cheira a sal.
Cheira sempre muito a sal.
E não me toques. Respira só.
E não fales. Deixa o coração bater devagarinho.
Deixa a madeira ceder debaixo dos teus pés a cada passo num barulho suave, quase imperceptível.
E deita-te...
Não me toques. Não me fales.
Deita-te.
Cheira a sal. Cheira sempre muito a sal quando estás por perto.
Como se estivesse dentro de uma onda. Só que sem medo que ela quebre.
Uma onda que é sempre uma onda.
Suspira quando encostares a cabeça à almofada.
Mas não puxes os cobertores.
Detesto que puxes os cobertores.
Não me toques.
Detesto que me toques.
Não me fales.
Destesto quando me falas.
Respira só. Deixa o coração bater devagarinho. Suspira.
Cheira a sal. Cheira sempre muito a sal quando estás por perto.

...Tenho saudades do cheiro a sal
... nunca mais cheirou a sal...

Fingir acreditar

Sim. Queria ser ela.
Queria mesmo.
Porque ela não sabe.
A ignorância é pacífica... silenciosa... Como um enorme oceano.
A inteligência é nauseante...atira-nos para a frente e para trás como um furacão. Envolve-nos no seu interior gelado, arrepia-nos e imobiliza-nos no terror. O terror de ter os olhos bem abertos e não conseguir fecha-los. O terror de não conseguir esquecer, de não conseguir ignorar.
Ah...a ignorância... é tão carinhosa... como uma brisa no pico do verão...envolve-nos de forma ternurenta, deita-nos numa cama de rede e embala-nos ao som de uma canção familiar. É quente...
A inteligência não é quente. É angulosa. Rígida. E magoa...
Por isso sim...
Queria ser ela.
Queria mesmo.
Porque ela não sabe.
Eu sei. Tudo. Até o que não queria saber.
Mas aí está... a inteligência grita aos nossos ouvidos...mesmo que não queiramos ouvir. E eu não queria ouvir. Não queria saber. Queria achar o que ela acha. Queria pintar o meu próprio cenário em ti. Queria reinventar-te.
Sim. Queria ser ela.
Queria mesmo.
Achar que conseguia mudar-te. Fazer-te acreditar que não tem de ser assim.  Que não fazes de propósito. Que é uma fase. Ignorar os sinais. Acreditar. Ou acreditar que acredito.
Sim. Queria.
Queria mesmo.
Mas não dá para esquecer. Não dá para acreditar. Não dá para fingir acreditar que acredito.
Não dá...
Sou como o algodão...não engano...
Oh mas se pudesse...
Sim...
Queria ser ela...
Queria mesmo...
Porque ela não sabe...
Ela não te conhece como eu.

terça-feira, 15 de maio de 2012

Tu não

Prefiro estar com loucos do que com falsos.
Mas tu não.
Prefiro continuar a arriscar mesmo quando sei que vou sair magoada.
Mas tu não.
Prefiro continuar a lutar por algo que pode ser impossível.
Mas tu não.
Prefiro chorar e gritar do que ficar calada.
Mas tu não.
Prefiro continuar a ter a fama e a não ter o proveito do que passar 5 segundos a provar que estás errado.
Mas tu não.
Prefiro assumir o que faço e não mentir.
Mas tu não.
Prefiro admitir que já errei e continuarei a errar.
Mas tu não.
Prefiro olhar no espelho e ter orgulho do que vejo do que defender aquilo em que não acredito.
Mas tu não.
Prefiro continuar a olhar nos olhos das pessoas porque não tenho nada a esconder.
Mas tu não.
Prefiro continuar a cair...e a levantar...e a cair...e a levantar...
Mas tu não.
Prefiro que continues a pensar o que queres de mim, a fazer os comentários que precisas de fazer sobre mim. Prefiro que continues a virar tudo contra mim, a conspirar, a falar, a criticar, a gozar...
Prefiro que o faças na minha frente, mas não faz o teu género. Não faz mal...
Prefiro ignorar-te...
Prefiro, porque sei que não faz diferença. Arriscar faz-me sair magoada, mas também me faz estar mais perto de ser feliz. Sim...
Um dia vou ser feliz.
Mas tu não.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Talheres

A pá ama a vassoura. A esfregona ama o balde.
E a colher?
A colher ama o garfo, mas o garfo ama a faca e não a vai deixar.
As colheres sonham ser facas, porque elas têm aquelas pequenas serrinhas. As facas amam os garfos porque eles têm aquelas 4 dentes perfeitamente simétricos.
Mas e as colheres? As colheres têm superfícies côncavas e convexas... Têm milhares de formas e tamanhos, são usadas como medição, para agitar, mexer ou provar. Com elas comemos sopas, cremes, sobremesas e tudo aquilo que la em cima consigamos equilibrar. Com as facas não podemos comer sopa, nem cremes, nem fazer medições.
Mas o problema não são as facas, nem as colheres.
Os garfos...os garfos é que vão ser sempre garfos e vão sempre gostar de facas.
As colheres...as colheres não se podem tornar garfos nem facas, porque são colheres.
As colheres estão sozinhas...
Os martelos de picar a carne também estão sozinhos...
Deviam ficar juntos...

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Last words

They said...

"I know not what tomorrow will bring..." (Pessoa)

"I know" (Mill)

"This is good" (Kant)

"I'm still alive" (Calígula)

"Everything is an illusion." (Hari)
"Nothing but death." (Austen)
"Give me coffee, I want to write!" (Bilac)


"Okay, okay...I'm going. Wait just a minute" (Papa Alexandre VI)

"Applaud, friends, the comedy is over." (Beethoven)

"Go away, last words are for fools who never said enough." (Marx)