quinta-feira, 29 de outubro de 2009

3600 segundos



Comecei a escrever naquele papel branco A4 tudo aquilo que pensava que sabia sobre o mundo, enchi-o de letras, de sonhos, de promessas e no final...enrolei-o e fiz do lixo o meu "cesto". Às quintas feiras torno-me jogadora de basquetebol profissional não sabiam?
Mas ultimamente tenho enrolado muito papeis com promessas, tenho feito do lixo o meu "cesto", mas por muitos pontos que marque o mundo ganha sempre, sem nem sequer encestar.
Hoje vi-o com uma pedra no peito e rios nos olhos. E enquanto as palavras nos fugiam, tentávamos correr atrás delas, mas não conseguimos. Será que o mundo ganha sempre? Será que temos que ser sempre personagens secundárias na nossa própria vida?
Hoje ela correu para mim com sede de ódio nos olhos e um sorriso maléfico na cara de menina. Perdoo-lhe a impaciência e o conformismo, porque fui eu mesma que o exigi, mas não a posso impedir de se banhar nas correntes de acrimónia em que se envolve profundamente. Sim, há dias em que eu própria me queria afundar nessas águas turvas, mas não acho que me iria sentir melhor.
Hoje vi-o a fixar o mesmo ponto vezes sem conta, a passar por mim sem me ver, a ignorar o mundo à sua volta porque lhe tiraram a última esperança que tinha. Tenho a certeza, embora não o conheça à muito tempo, que se lhe perguntasse ele me diria que preferia ser atingido por um piano atirado de um décimo andar do que sentir aquela dor asfixiante da qual era impossível encontrar alívio. Dói ouvir que nunca vai acontecer.
Hoje ela atirou-me um olhar gélido que me parou o coração. Sim...já faz parte da rotina, mas não deixa de doer apenas porque é repetitivo...acho que até estranharia se não levasse aquele olhar para a primeira aula do dia. Kant fizeste o teu melhor, mas a intenção já não importa. Irei morrer durante segundos todos os dias até morrer para sempre.
Hoje vi-o a cravar as letras na capa do caderno. Um dia que tinha começado bem tinha-se revelado na maior mentira que alguma vez enfrentou, e não podia simplesmente ignorar, era-lhe impossível passar por cima disto, ainda mais por baixo, então, enquanto o vi-a atirar-se de cabeça para o meio daquela escuridão...engoli em seco. Um dia...vemo-nos do outro lado.
Hoje ela escondeu-se nos meus braços a chorar compulsivamente. Será o fim um novo início? Ou acabou tudo por aqui? Terá isto algum sentido? E quando dizemos que ultrapassamos, teremos realmente ultrapassado? Ou estamos apenas a encher a nossa caixinha de Pandora um pouco mais até nos libertarmos finalmente?
Hoje vi-o, hoje ela, hoje vi-o, hoje ela, hoje vi-o, hoje ela...até que ele chegou. E as nuvens afastaram-se para o Sol libertar uma raio ofuscante. E o meu coração recomeçou a bater, o sorriso voltou à minha cara, a escuridão escondeu-se numa esquina longínqua. Gostava de ter esse poder que tu tens, esse de aquecer corações e de libertar. Dei-lhe a mão e apertei-a com muita força. Agora sim...agora podíamos voltar atrás e ajuda-lo a ele, a ela, a ele, a ela, a ele, a ela. E o mundo rendia-se a cada passo nosso.

Porque hoje encestamos.

Porque hoje, finalmente, ganhámos.